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BIOGRÁFIA

Curitibano nascido em 1960, neto de libaneses, filho de pais professores, quatro irmãos, aluno do tradicional Colégio Medianeira desde os 7 anos, Paulo Salamuni teve uma infância privilegiada do ponto de vista intelectual. No colégio, aulas de filosofia, estudando até Marx e Engels. Em casa, um reduto de socialistas perseguidos pela ditadura, onde tudo era discutido e analisado. Por isso, não chega a surpreender sua paixão, desde muito jovem, pela política, pelo velho MDB. Tampouco surpreende sua decisão de deixar a sigla, depois de cinco mandatos como vereador, e optar pelo Partido Verde, uma nova alternativa e um novo compromisso com a modernidade política, que não pode deixar de lado os grandes desdobramentos da questão ambiental.

Qual são suas primeiras lembranças do período da ditadura?
Em 1964, eu tinha quatro anos, só comecei a entender as coisas mais tarde, com nove ou dez anos. Em minha família havia muito diálogo, era uma época em que se almoçava junto, se sentava junto, era sempre uma conversa muito franca, tranquila, com relação ao momento que estávamos vivendo. Mesmo o pai, o professor Riad Salamuni, nunca abordava diretamente as questões - “Olha está acontecendo isso” - não, ele passava a conjuntura e a gente aprendia com isso.

Lembro especialmente de um dia em que estávamos almoçando na casa de uma tia, acho que foi em 1968 ou 1969, e alguém ligou para dizer que tinham entrado em nossa casa, que talvez fosse um assalto e, quando chegamos, encontramos tudo no lugar, não tinham roubado nada, apenas levaram boa parte da biblioteca. Não sei como, meu pai descobriu que seus livros foram jogados no rio Belém, que era um canal aberto, e foi, com um amigo, tentar resgatar os livros. Com a ajuda de uma escada, desceram pela parede de concreto e conseguiram salvar alguns livros que ficaram na borda. Foi um ato de violência e de pressão, pois o pai tinha formação socialista, convivia com pessoas que foram perseguidas ou obrigadas a deixar a universidade. Era comum reuniões desse grupo lá em casa, lembro bem de professores como Newton Freire Maia, Dante Romanó, Lamartine Correia e Almilcar Gigante, que faziam parte da resistência democrática e sofreram todo tipo de perseguição. Era o Movimento dos Professores da UFPR.

O interessante é que o mundo dá voltas e, em 1986, na primeira eleição direta para reitor nas universidades federais, o pai foi eleito na UFPR e Amilcar Gigante, na Universidade Federal de Pelotas...

Naquele tempo, porém, vivíamos em clima de apreensão, meus pais tinham muito medo de que pudesse acontecer alguma coisa com as crianças e, com 14 anos, eu ainda não saia sozinho, não andava de ônibus...
 
De que modo essas experiências influenciaram suas escolhas?
Sem dúvida, a experiência do pai foi muito marcante para mim. Ele fez pós-graduação em Geologia nos Estados Unidos na década de 50 e pode observar de perto como os chamados países subdesenvolvidos eram tratados. Ficou indignado com a existência, lá, das “minas de transferência”, onde ficavam armazenados minérios extraídos de países como o Brasil. Costumava nos contar que, quando questionou o professor sobre a exploração dos países pobres, recebeu a seguinte resposta: “nós podemos ter dúvidas sobre a forma como nossos governantes conseguiram isso mas, pior que isso, são os governantes de vocês, que são corruptos e entregam a pátria, os bens de todos os brasileiros. Cabe ao senhor voltar pra lá, e tentar mudar a cabeça de quem governa para dizer que é preciso preservar esses bens...” Depois de três anos nos Estados Unidos, voltou como militante nacionalista. Participou ativamente da campanha “o petróleo é nosso”, combateu a ditadura e a corrupção e lutou pelo Estado de Direito até o último dia de vida. Trouxe esse mesmo espírito para dentro de casa, incentivando minha mãe, Hôda Salamuni, a trabalhar como professora num tempo em que a crença era de que “mulher que trabalha, não casa” e tinha enorme respeito pelo trabalho dela. O estímulo foi mais longe ainda, ela foi a primeira mulher da família a tirar carteira de habilitação como motorista (hoje, aos 80 anos, ainda dirige). Participou da criação do Conselho da Condição Feminina em 1982 e percorreu o Paraná mostrando às mulheres novas perspectivas. E foi nesse clima que fomos formados.

Como o escotismo entrou em sua vida?
Igor Kipman, atual embaixador do Brasil no Haiti, foi o primeiro escoteiro que conheci. Ele me convidou para participar do grupo escoteiro Marechal Rondon, no Colégio Estadual do Paraná, mas fiquei lá por pouco tempo, era muito criança. Mais tarde, comecei a fazer parte do grupo do Colégio Medianeira, e aí foi meu contato prático com o meio ambiente, pois o cenário do escotismo sempre foi o acampamento, a montanha, o rio, as caminhadas na Serra do Mar. E passei a entender melhor frases que ouvia de meu pai, repetindo seu mestre Reinhard Maack: “o homem vai pagar um pesado tributo pelo seu desrespeito pela natureza”. Essa frase era a que mais eu ouvia e antes não conseguia entender seu significado: os jornais não falavam e ninguém tocava no assunto. Quando o pai foi para a Amazônia, com o professor Bigarella, voltou desolado, lembro que dizia que as coisas que viu, máquinas enormes, correntes devastando tudo “eram como uma faca no peito”. E ninguém prestava atenção, o pai parecia um cientista maluco, falando de árvores, florestas, rios, camada de ozônio...

Mas o escotismo tinha um lado conservador, estranho para sua formação política ...
Foi muito impressionante, eu percebia que a direção do movimento escoteiro era muito conservadora e ficava indignado. Nunca vou esquecer que, em 1975, a ditadura comendo solta, o movimento deu uma medalha para o General Geisel, na Festa da Uva, em Caxias do Sul. Eu pouco entendia, mas percebia que o escotismo fazia uma certa propaganda do regime - não vou generalizar, nem tudo era assim – e pensava: um dia vou chegar na direção do movimento e vamos mudar a face disso. E, bem ou mal, consegui fazer isso. Anos depois, virei presidente da União dos Escoteiros do Brasil e hoje temos posições avançadas, temos um movimento democrático, fizemos uma estatuinte, é tudo por eleição, eu ajudei a mudar a face de um movimento que parecia retrógrado. Recentemente, tiramos o brasão de armas do símbolo do escotismo brasileiro, o movimento é uma organização não governamental, sem vínculos com nenhum partido, com o Estado, com o Exército ou a Igreja . Eu contribui para essa mudança da filosofia e hoje o escotismo quer que o jovem assuma seu próprio desenvolvimento, fazendo o seu melhor possível para se tornar um líder útil, a serviço da comunidade. É um movimento que tem muita importância, a partir do pressuposto de que um escoteiro pode ser um cidadão melhor. O alcance mundial do movimento ainda atrai os jovens que têm, deste modo, oportunidade de conhecer a diversidade cultural do planeta e aprender com isso. Ainda há muito que fazer, não conseguimos, por exemplo, levar o escotismo para a população de baixa renda, o que poderia ser uma contribuição importante na formação da cidadania. 

Vivendo entre a política e o escotismo, por que você escolheu ser advogado?
Fugi da regra em casa, pai geólogo, um irmão geólogo, outro engenheiro florestal... imagine que eu cheguei a prestar vestibular para engenharia agronômica, logo eu, um cidadão eminentemente urbano...Optei pela faculdade de Direito porque eu tinha certeza que assim iria enveredar para a política, eu era um apaixonado, era da juventude de MDB...

Quando estava no no terceiro ano, fui estagiar como advogado trabalhista no Sindicato dos Trabalhadores da Construção Civil, e aprendi muito. Tive que enfrentar os grandes escritórios de advocacia, as grande corporações e me sentia bem defendendo os trabalhadores. Era o período das primeiras greves, eu com 20 anos e uma média de oito audiências por dia... Isso me marcou muito, comecei a juntar algumas pontas soltas, as lições do Medianeira, de meu pai e de seu grupo. Foi então que resolvi entrar mesmo na vida política. Em 1982, foram convocadas eleições gerais, de vereador a governador, e pus na cabeça que ia sair como candidato a vereador. Aí meu pai me disse:”olha, Paulinho, se sair candidato, você só perde”. Argumentei que era uma eleição ganha, diziam que o PMDB iria eleger até poste, como eu poderia perder se fosse eleito? Ele disse: “não, você não terminou a faculdade, vai entrar num redemoinho e arrisca não se formar...” Aceitei o argumento, terminei faculdade em 84 e fui trabalhar na implantação da primeira Ouvidoria Pública do Brasil durante a gestão de Roberto Requião na Prefeitura de Curitiba. Depois, fui secretário adjunto da Secretaria de Desenvolvimento Social de Curitiba. Ali, vi um pouco da tragédia humana: o desespero das mães com a falta de creche, os meninos de rua, o uso de drogas, o tráfico.

E a política partidária e as eleições?
Em 1988, disputei a primeira eleição de vereador em 1988, fiquei como quinto suplente e, durante dois anos, fui diretor do Instituto Terras, Cartografia e Florestas (ITCF), um instituto progressista e firme, pioneiro no Brasil, que realizava um bom trabalho na questão florestal e fundiária, já com os assentamentos. Em 1991, assumi como vereador pela suplência. Em 1992, enquanto vereador, prestei concurso para Procurador do Município: era uma enorme responsabilidade porque eu era líder da oposição à gestão municipal, não podia errar naquele momento. Passei em terceiro lugar.

Com seis mandatos, como você avalia a função do vereador na vida política?
A palavra política vem de pólis, cidade, se refere ao relacionamento urbano, tem um sentido de comunidade. A política é iminentemente cidadã, ela se dá nas cidades, tem a ver com cidadania, com cidadão. Eu encaro como uma responsabilidade enorme o dever de representar o povo da minha cidade, o povo que me conhece, o povo que cruza comigo nas ruas, meu convivas. Sempre exerci o mandato com independência, procurando saber como são as pessoas que acreditam em mim, que votaram em mim, apesar da dificuldade brutal de enfrentar um sistema partidário e eleitoral todo viciado...

 E suas atividades no escotismo?
Sempre correram em paralelo, como outros compromissos que tenho, com os meninos de rua, a associação do meu bairro, a coletividade árabe, a Associação dos Procuradores Municipais de Curitiba. Em todas as atividades que estive ou estou envolvido plantei alguma coisa de efetivo, mas evito levar a instituição junto comigo, pois nós passamos e a instituição fica.

E o PV?
Sou defensor da fidelidade partidária mas, como não havia bancada do PV na Câmara dos Vereadores e eu sempre tive um compromisso claro com as questões ambientais, me sentia, em parte, representando as posições do PV. Foi uma passagem natural. Entrei no PV no dia 27 de junho de 2005 e, em 2010, fui candidato ao governo do Estado. Foi uma experiência forte, porque se trata de um processo mais maduro e, mesmo sem recursos, ficamos em terceiro na eleição para governador. Foi um grande passo, com o intuito de auxiliar a eleição da Marina, que foi muito bem em Curitiba ( fez 26,7% dos votos aqui) e dar mais visibilidade para o partido.

 O que o PV representa hoje para o país?
A eleição de 2010 nos deu uma grande oportunidade, provou que o PV é o único partido que tem identidade, cujo nome já diz o que é, o que quer. É preciso fortalecer o partido e assegurar a identidade. Criar raízes na sociedade, que reconhece a existência de graves problemas ambientais tanto nas cidades como no estado, no país e no planeta, e quer participar da solução desses problemas. A verdade é nós necessitamos de uma reforma política e aí o  PV pode representar uma alternativa madura, para as pessoas que querem um mundo diferente, querem a transparência, querem a vida em abundância em todos os sentidos, querem a democracia plena. Isso não significa que o PV já representa essa alternativa, mas acho que pode unir pessoas assim, mesmo que tenham visões de mundo diferentes, mas que com estes pontos em comum, para construir um partido diferente. Ainda necessita amadurecer muito enquanto partido, enquanto sigla e estamos tentando atingir a maturidade na caminhada.

O que uma militância comprometida com a proteção ao meio ambiente representa para um vereador em Curitiba ?
Representa muito, porque se a cidade é o nosso cenário, é onde a gente vive o dia-a-dia, tudo acontece aqui: da poluição visual à grande concentração de veículos; dos rios poluídos à falta de falta de espaço para circulação de pessoas; da proteção real aos últimos remanescentes de vegetação nativa ao padrão de consumo e geração de lixo. Tudo tem a ver com a cidade.

Como será este mandato de 2 anos?
Gostaria de dar a este mandato uma identidade clara, de compromisso com a questão ambiental da cidade, voltado para isso, para a discussão, reflexão. Realizar um trabalho concreto em termos de legislação, deixar uma contribuição efetiva. Um mandato que ajude a tornar nossa cidade melhor nesses aspectos, mas de forma prática, não uma coisa romântica, subjetiva, mais algo muito claro. Definir pontos fundamentais e focar a ação neles.

Seu gabinete está aberto para os grupos da sociedade que estão comprometido com a questão ambiental?
Sem dúvida e não só para aqueles comprometidos com a questão ambiental, mas para toda a sociedade que pensa e que pode contribuir para um mundo melhor, uma cidade melhor. Entendo que um gabinete parlamentar é uma embaixada que representa o modo de pensar da coletividade que detém o mandato, representada por alguém que foi eleito e age em nome dessas posições. Tem que ser uma embaixada aberta para todos que pensam do mesmo modo e que tenham contribuições efetivas. Então, espero que meu gabinete seja a embaixada daqueles que querem um mundo mais correto, solidário, transparente e ambientalmente saudável.

É possível pensar numa sociedade mais respeitosa com a vida e com o ambiente e, ao mesmo tempo, mais justa? Você consegue juntar sua experiência de trabalhar com meninos de rua, sindicatos urbanos, assentamentos de agricultores sem terra e a questão ambiental ?
Tudo é compatível, não há como ser um ambientalista sem se comover diante das brutais desigualdades sociais, da miséria e das injustiças. A solução dos problemas ambientais pressupõe essa sensibilidade: nós estamos preservando  para a vida em sentido amplo, para uma sociedade mais justa, onde as desigualdades sejam menores, para que todas as pessoas possam ter uma vida digna. É uma simbiose....Tudo tem a ver, a questão ambiental é o ponto de partida para as questões sociais, para a vida em abundância, em sua integralidade. Para mim, é isso que significa um mandato popular pelo futuro da vida.

 
     


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